quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

ESBOÇOS PARA UM ANO SEM OSCAR



Jantando com amigos norte-americanos ligados ao Museu de Arte Contemporânea de Chicago, fui perguntado sobre a existência no Brasil de correntes arquitetônicas divergentes de Oscar Niemeyer. Como assim? A pergunta me pegou no contrapé. Parece tão unânime, esclareceu o "my friend", tudo o que é glorificado na arquitetura brasileira vindo da mesma cabeça? Havia admiração sincera em seu questionamento e, como todo bom questionamento, me fez refletir. Faltavam poucos dias para o final de 2012 e nossa unanimidade arquitetônica havia acabado de nos deixar. Perdemos uma referência-chave, logo agora que as referências parecem escassear tanto quanto o oxigênio e a água do planeta.
Durante o jantar, a conversa girou prioritariamente sobre arte brasileira. Os amigos tinham vindo até aqui só para apreciação artística, dividindo sua viagem em três etapas: Inhotim, São Paulo (com atenção especial à Bienal) e Rio de Janeiro. Esmiuçavam estilos, buscavam a alma de nossa criatividade. Foi uma refeição e tanto, onde junto com a comida mastigamos generosas porções de ideias e compartilhamos boas risadas.
Nos despedimos com votos de Feliz Ano Novo, eles voaram de volta pra casa, assim como voaram os diazinhos que faltavam pro Réveillon. O fim do mundo novamente virou piada, a centenária Canô nos deixou no Natal, como se só tivesse esperado a partida de Niemeyer para ganhar dele na corrida pelos 105 anos, enquanto Gilberto Gil e Stevie Wonder enchiam as areias de Copacabana com sua magia, deixando acesos os estopins do foguetório que aconteceria na semana seguinte, e 5, 4, 3, 2, 1... pow-pow-pow... cá estamos nós em pleno Ano da Serpente. Dizem que é um ano de mudança de pele, de fase, de perspectiva. Dizem um monte coisa, porque dizer sempre foi fácil, não custa nada etc. Mas ninguém se arrisca a indicar novas referências, a palpitar sobre quem vai cuidar das linhas sinuosas que nos aguardam pelo caminho.