O poeta Claufe Rodrigues não se inspirou em Sandy, mas bem que podia.
Escreveu seus versos antes da Frankenstorm assombrar a Costa Leste dos Estados Unidos, participante indesejada de um Halloween sem trick or treat. Escreveu com doçura e bom humor, certamente sem levar em conta o lado sombrio da natureza.
Lembrei-me dele depois de voltar de Nova York, susto passado, banho tomado, sono reconciliado, ideias saindo da toca pós-vendaval. “Vejo beleza em tudo o que vejo, porque sou poeta e me alimento do que é belo”, diz Claufe, e segue:
“Ante meus olhos
Sirenes tocam sinos.
Tenho a alma de um
menino
Que ainda está para
nascer.
Sou o dono do meu
tempo
Mas de repente vem
um vento e eeeê…
(…)
Vejo beleza nas ruas
secundárias,
Mais do que nas
avenidas principais.
Vejo beleza nos
velhos caminhando nas praças,
Nas meninas comendo
pizza nos shoppings,
Até no motorista que
avança os sinais,
Enquanto os
pedestres passam apressados,
Prestes a
enlouquecer.
Sou o dono do meu
tempo
Mas de repente vem
um vento e eeeê...
Vejo beleza no
mínimo e no máximo,
No desperdício e no
básico,
No popular e no
clássico,
Na música e no
barulho,
No vício e na
virtude.
Vejo beleza até
quando não vejo,
Quando beleza é só o
desejo de ver.
Sou o dono do meu
tempo
Mas de repente vem
um vento e eeeê...”
Numa metrópole
dominada pela trilha sonora das sirenes, com a TV acompanhando cada passo e
cada rastro deixado pelo monstro, com gente vagando pelas ruas em busca do que
comprar, ou impedida de ir e vir pelo transporte que não há, falta quase tudo,
mas permanece a beleza, o sentimento coletivo e a solidariedade que ventos não
conseguem levar. E quando, no meio da tempestade, percebemos que já não somos
donos nem mesmo do nosso tempo, de repente vem a poesia e eeeê. Estamos salvos.
Muito bom o texto, e a poesia do Claufe
ResponderExcluirValeu, Alex!
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