domingo, 11 de dezembro de 2011

A dedicatória de Luiz Ruffato


Fui ao lançamento do livro.
Adoro o trabalho do Ruffato, que comecei a admirar pelo Inferno Provisório, antes mesmo de conhecer o premiado "Eles eram muitos cavalos".
Lá estava ele na mesinha da Argumento, esbanjando o estar de bem com a vida que sua mineirice, residente em São Paulo e acariocada pela opção de ser flamenguista, revela em sorrisos fartos, descontração e gosto pelo papo informal. Brindava com especial atenção cada integrante da fila de autógrafos. Puxava conversa, lembrava episódios, tirava fotos... altíssimo astral.
Chegada minha vez, não foi diferente. Falamos até do gol de falta do Ronaldinho Gaúcho por baixo da barreira no histórico jogo contra o Santos. E ao final das risadas e sacaneadas num vascaíno que também estava na fila, o mestre sapecou sua dedicatória no meu exemplar.
Saí da fila feliz e fui ler o que ele havia escrito. Era um texto de 5 linhas, nenhuma delas contendo uma palavra sequer que respeitasse os mais básicos critérios legibilidade. Não entendi lhufas, mas deu-me o que pensar. Imediatamente lembrei de uma senhora que pouco antes havia retornado para pedir-lhe que lesse o que escreveu. Decididamente, não era de visão o problema daquela senhora.
Pensei se não seria uma estratégia brilhante para escapar do suplício de criar dedicatórias nesse tipo de evento, cada um querendo um texto especial do autor que luta contra dores no punho e falta de ânimo pra bancar o repentista. Rabisca-se algo ininteligível, o destinatário imagina o que quiser e todos ficam felizes para sempre. Podia ser também um recurso estilístico, gerando certo mistério em torno de dedicatórias indecifráveis.
Seja lá o que for (talvez nada mais que uma vocação para a área de saúde que lhe tenha premiado com letra de médico), a dedicatória marcou. Quem sabe não é conceitual? Para um livro chamado "Domingos sem Deus", nada mais sensato do que escrever torto por linhas certas.
Esse Ruffato é gênio mesmo.

2 comentários:

  1. Adilson, se você quiser me enviar o fac-símile da dedicatória, eu faço a transcrição para você. Conheço bem a letra do meu amigo. Abraços.

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  2. Tive o mesmo problema com a dedicatória de valter hugo mãe no meu exemplar de "máquina de fazer espanhóis". De pronto, levei pra minha mãe tentar decifrar. Pensei q duas pessoas de letras ilegíveis pudessem se entender em algum nível. E deu certo: "ao rodrigo, com um gesto, o modo de fazer luz".

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