quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O acontecimento nos espera - sempre.

O título deste post estava no facebook. Quer dizer, estava num livro. Quer dizer, estava num livro extraído do facebook: faces, de Livia Garcia-Roza.
Mal nasceu, a rede social mais famosa do planeta já virou literatura. Segue o ritmo da twitteratura, também impressa em papel como num click. Segue o ritmo do nosso tempo, cada vez mais curto, inquieto, ansioso, sedento de conteúdo. Lindo isso! Tecnologia e literatura lado a lado, uma brincando no espaço da outra, experimentando a elasticidade dos limites (se é que eles existem), se complementando e reforçando na reciprocidade que só a convergência viabiliza.
Encontrei no "faces" de Livia momentos iluminados, ideias profundas como "o amor é o melhor tempo perdido", "nos tornamos jovens muito tarde", "angústia é a expressão máxima do nada" e "é na imaginação do leitor que o livro acaba de ser escrito". Uma obra de leitura prazerosa e rápida, que permite pausas de reflexão longuíssimas, ou não. Cada um lê do seu jeito, digere como lhe der na telha, mas não escapa de pensar.
Faz lembrar de Hemingway que, desafiado a escrever uma história com apenas seis palavras, criou a pérola: "For sale. Baby shoes. Never worn."

domingo, 20 de novembro de 2011

Liev Tolstói, além da literatura



Um novo Tolstói acaba de chegar. A notícia está em todos os cadernos literários. Guerra e Paz, pela primeira vez publicado no Brasil com tradução direta do russo, feita por Rubens Figueiredo. Livrão, literalmente falando, exatas 2536 páginas. Uma obra ímpar, que atravessa gerações sem perder a majestade.
Mas o que mais me encanta é o autor, ele próprio seu mais rico personagem.
Depois de se tornar célebre a ponto de sua casa virar centro de peregrinação de escritores do mundo inteiro, Tolstói entra em crise existencial, funda um movimento filosófico quase religião, começa a questionar a importância de ser escritor, abre mão de seus direitos autorais, bate de frente com a mulher com quem foi casado por mais de 4o anos, combate a propriedade privada... vira sua vida de pernas pro ar.
Embalado pela notoriedade da nova edição de sua obra mais emblemática, fui em busca do que o cinema tem a dizer sobre ele, e descobri "A Última Estação". Filmaço, baseado num livro de Jay Parini sobre o momento mais conturbado da vida do grande escritor. Muito bem dirigido por Michael Hoffman, mostra-nos Christopher Plummer numa caracterização e interpretação de encher os olhos. Aliás, o elenco como um todo (destaques para Helen Mirren, Paul Giamatti, Anne-Marie Duff, Kerry Condon e James McAvoy) está impecável.
Vale a pena ver o cara que disse pérolas como "Se queres ser universal, começa por pintar tua aldeia" e "Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo", ultrapassando todos o limites da literatura, e atingindo um grau de importância histórica que provavelmente nem ele, com o toda a sua criatividade, conseguiria imaginar.

sábado, 12 de novembro de 2011

Um pouco de loucura para manter a lucidez

"Na vida às vezes a gente tem que escolher entre esmurrar a ponta de uma faca ou se deixar queimar no fogo", disse Rodrigo de Souza Leão em seu livro "Todos os cachorros são azuis". Escritor, jornalista e músico, Rodrigo sofreu um surto de esquizofrenia que o manteve trancado em casa por 20 anos, passou a exercitar a pintura, acredito que também com objetivos terapêuticos, e morreu prematuramente, internado em uma clínica psiquiátrica, de forma misteriosa, tendo acrescentado ao seu currículo de manifestações artísticas o título de pintor.
Estive na abertura da exposição de sua obra no MAM do Rio de Janeiro, quarta-feira passada. O título não podia ser mais coerente: "Tudo vai ficar da cor que você quiser". Livre, leve e lúcido. Até a forma como a exposição foi custeada, através de crowdfunding, crava uma mensagem instigante na cabeça da gente (como a bomba que o autor imaginava implantada em seu crânio). O que seria de nós sem a loucura? O que seria de nossa trajetória sem uma manobra radical de vez em quando? Linear, acomodada, monótona, desemocionante.
Vendo vários artistas no evento, dentre eles Cauã Reymond, que vai adaptar pro cinema um dos livros do Rodrigo, foi imediata a conexão entre idealismo, criatividade e coragem para alterar o status quo. Veio à mente a imagem do prisioneiro do "Expresso da Meia-Noite" andando na direção oposta aos demais prisioneiros, veio Raul Seixas ficando com certeza maluco beleza, e pintou um sorriso mutante, apaziguador, garantindo que mais louco é quem me diz que não é feliz.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O que você está lendo? Thalita Rebouças cita meu livro na Vejinha

Thalita Rebouças

O Atirador de Ideias, de Adilson Xavier (Best Seller). A obra faz uma reflexão sobre o processo criativo com um texto que aborda questões como a migração de nordestinos para o Sudeste, o aprendizado informal das ruas e o surgimento das ideias. O personagem José Espínola dos Santos, apesar de não ter educação formal, se desenvolve intelectualmente com as experiências que vive no Rio de Janeiro. Assim, ele cumpre a profecia do pai, que depositou no nome Espínola, que não é da família, a esperança de ver seu filho se diferenciar dos demais.

domingo, 6 de novembro de 2011

Café da Manhã, Cronópios, Dulcinéia Catadora e um Sérgio por acaso costurando tudo

No café da manhã com uma importante jornalista, falando sobre grandes nomes da publicidade brasileira, surgiu o Sérgio Graciotti. Onda anda? O que tem feito? Nunca mais ouvi falar dele. Era um dos monstros sagrados da criação...
No fim da tarde, vou gravar um webcast com o Pipol da Cronópios. Ideia alternativa, criativa, viva, quantos ivas! Fala-se de tudo um pouco. Como é feito, quem participa, quem conhece ou desconhece, e lá vem ele de novo, o Sérgio Graciotti, com quem o Pipol mantém remoto contato. Caramba, falei dele hoje de manhã!
Terminada a gravação, recebo de presente um livro do projeto H2horas. Tempo fluído, literatura artesanal com fundo social, em conjunto com o coletivo Dulcinéia Catadora, reciclando papelão, cumprindo seu papel e, como conteúdo, textos dos frequentadores digitais do Cronópios. Um dia perfeito, alto astral, altos papos.
Abro o livro que ganhei e entre os textos que o recheiam, lá está o Sérgio de novo, um cara de quem eu não lembrava há um tempão, com quem nunca conversei, que foi um dos meus ídolos quando eu começava na carreira, bem ali naquele livrinho exemplo de resistência cultural, e curiosamente falando sobre um tema que parecia de encomenda. Eu, hein!

"O acaso é feito de pequenos dentes,
Imperceptíveis ganchinhos, fiapos,
Gotinhas de óleo ou de água,
Penhascos, cola, engrenagens,
Ventos, tráfego e viagens.
Não existe acaso, ou existe?
Será a nossa incapacidade de percebê-lo
Que só nos mostra aquilo
Que seja maior que um pelo?"

(Sérgio Graciotti)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pelé, Zico e arte de encantar os estádios



Um amigo me enviou esta foto. Amigo desses raros, foto não menos rara.
Houve um tempo em que o futebol era mágico, fazia a gente ficar de pé e se alvoroçar cada vez que um dos gênios recebia a bola. E havia gênios pra todos os gostos, encantando os estádios com seus toques, suas arrancadas, sua elegância deslizando sobre a grama ou amortecendo a redonda mesmo que ela chegasse quadrada. Seus dribles, pinçados de um vasto repertório, pareciam ser inventados diante de nós, eram como reflexos, irracionais, instintivos, mas ao mesmo tempo planejados em algum compartimento sigiloso da alma. E marcavam gols inesquecíveis, e se comportavam com dignidade dentro e fora de campo, e podiam ser tomados como exemplos...
Por que esse papo agora? Sei lá. Vi a foto, e imediatamente a palavra futebol me remeteu à arte.
Valeu, Beto!