sábado, 12 de novembro de 2011

Um pouco de loucura para manter a lucidez

"Na vida às vezes a gente tem que escolher entre esmurrar a ponta de uma faca ou se deixar queimar no fogo", disse Rodrigo de Souza Leão em seu livro "Todos os cachorros são azuis". Escritor, jornalista e músico, Rodrigo sofreu um surto de esquizofrenia que o manteve trancado em casa por 20 anos, passou a exercitar a pintura, acredito que também com objetivos terapêuticos, e morreu prematuramente, internado em uma clínica psiquiátrica, de forma misteriosa, tendo acrescentado ao seu currículo de manifestações artísticas o título de pintor.
Estive na abertura da exposição de sua obra no MAM do Rio de Janeiro, quarta-feira passada. O título não podia ser mais coerente: "Tudo vai ficar da cor que você quiser". Livre, leve e lúcido. Até a forma como a exposição foi custeada, através de crowdfunding, crava uma mensagem instigante na cabeça da gente (como a bomba que o autor imaginava implantada em seu crânio). O que seria de nós sem a loucura? O que seria de nossa trajetória sem uma manobra radical de vez em quando? Linear, acomodada, monótona, desemocionante.
Vendo vários artistas no evento, dentre eles Cauã Reymond, que vai adaptar pro cinema um dos livros do Rodrigo, foi imediata a conexão entre idealismo, criatividade e coragem para alterar o status quo. Veio à mente a imagem do prisioneiro do "Expresso da Meia-Noite" andando na direção oposta aos demais prisioneiros, veio Raul Seixas ficando com certeza maluco beleza, e pintou um sorriso mutante, apaziguador, garantindo que mais louco é quem me diz que não é feliz.

2 comentários:

  1. Enfim, o encantador solto no ciberespaço.
    Seja bem-vindo, mano AX.

    ResponderExcluir
  2. A loucura e suas belas obras....

    Arthur Bispo do Rosário deixou uma obra genial, que foi produzida enquanto viveu anos trancafiados na Colônia Juliano Moreira.

    Estamira virou filme, e nos encantou com sua sabedoria de vida, no ambiente árido do lixão.

    Stella do Patrocínio era poetisa. Falava seus poemas, enquanto uma estagiária, encantada, gravava. Depois de sua morte, foram transcritos pela também poetisa Viviane Mosé, no livro "Reino dos Bichos e Animais é o meu nome".

    Beijos,

    Aniele

    ResponderExcluir