quinta-feira, 8 de março de 2012

PARA ENTENDER AS MULHERES, ESQUEÇA OS PSICANALISTAS. CONSULTE OS POETAS.



Drummond disse:

" Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café… Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!”

Precisa dizer mais alguma coisa?


sábado, 3 de março de 2012

RETROFUTURISMO JÁ


Acho engraçada essa palavra, soa cabeçuda sem perder o bom-humor, tem um quê de cinismo e esnobação de antenados, embora seja razoavelmente antiga, criada por Lloyd Dunn em 1983. O fato é que, apesar de seus quase 30 anos, segue atualíssima.
Retrofuturismo é o que melhor define o caráter distópico, ambíguo e contraditório do nosso tempo. Ok, de todos os tempos, só que evidenciado pela intensidade e rapidez com que ocorre hoje, de acordo?
Incensar no presente a forma como o futuro era imaginado no passado é tornar profético o que a princípio só pretendia ser imaginativo, é colocar a imaginação no mais alto dos pedestais, de onde também nós adquirimos o direito de observar o amanhã, brincar de futuristas e, quem sabe, acertar alguns chutes sobre o que vem por aí.
Em seu "O Zen e a Arte da Escrita", Ray Bradbury, autor do clássico "Fahrenheit 451", nos lembra que os primeiros homens e mulheres desenharam ficção científica nas paredes das cavernas, e enfatiza que sem fantasia não há realidade, sem imaginação não há vontade, sem sonhos impossíveis não há soluções possíveis. Graças a ele, passei a encarar o gênero com olhos mais simpáticos, descobri que Steam Punk, Diesel Punk e Cyber Punk são mais punks (no melhor dos sentidos) do que parecem, que o Batman de Joel Schumacher pode andar de mãos dadas com o Metropolis de Fritz Lang e flertar com os cultuadores de Star Trek e Star Wars, enquanto visitam o Brazil de Terry Gilliam.Vi mais claramente a poesia de Blade Runner, a fantasia de Back to the Future (fácil esbarrar com Júlio Verne por ali), a filosofia de Matrix. Conclui que há espaço de sobra para emoção, nos chips, nos múltiplos gadgets, nos softwares, nos pendrives, nos hard-disks, e nas telas (que, desde o primeiro quadro do primeiro pintor a emoldurar seu trabalho, sempre tiveram esse nome), telas de todos os tamanhos, para todos os gostos, cada vez mais acessíveis, e sensíveis ao toque.
Há futuro, gente! Essa é a boa notícia. Há muito tempo que há. E por mais fantástico que pareça, ele continua fazendo algum sentido.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A MEMÓRIA TEM FUTURO.

A frase título deste post é de Gonçalo M. Tavares, em seu livro Uma Viagem à Índia, o mesmo livro em que ele diz que "o inesperado não tem fórmula, e mesmo o passado tem coisas que ainda amanhã serão surpreendentes". O livro é recente (2010), dividido em cantos, narrado em forma de poema, tudo pra ser taxado de chato-antigo, não fosse ele uma epopeia tão vanguardista que se dá ao luxo de terminar com um gráfico sobre a melancolia contemporânea, fazendo lembrar os efeitos visuais na abertura de Matrix. Lusíadas pós-moderno, por que não?
Surpreende-nos tantas vezes a ousadia e contemporaneidade de obras criadas há um tempão, ou a possibilidade de transformá-las em algo inteiramente novo, do mesmo modo que somos pegos no contrapé por antigas ideias repentinamente alçadas ao patamar de hits da atualidade, como se ninguém se lembrasse de que existem há décadas, guardadas numa gaveta que só esperava por uma boa arrumação. De velho a vintage ou de ultrapassado a cool, estalam-se os dedos e pronto. A reciclagem é um fato indiscutível, inevitável e, acima de tudo, bem-vindo, nenhuma área escapa à sua órbita.
Só os idiotas não aprendem com a história, e atravessamos um momento em que a história cresce em relevância por nos oferecer o abraço confortante que a velocidade supersônica-megabytica insiste em negar. A segurança escapa pelos dedos, e só a reencontramos quando nos avizinhamos de territórios já visitados. Saudade é sentimento que só rola em relação ao que nos trouxe alguma felicidade, todo mundo sabe. Saudade até daquilo que não conhecemos tão bem, mas que nos devolve a um tempo em que ser feliz era - ou parecia ser - menos complicado. Daí filmes como O Artista e a Invenção de Hugo Cabret, revisitando e revalorizando os alicerces da sétima arte. Daí Paul McCartney gravando as músicas que antecederam e inspiraram os Beatles. Daí um grupo de jovens arrastando multidões no Carnaval carioca pra cantar e dançar com o Sargento Pimenta que eles não chegaram a vivenciar quando ainda era Sargeant Pepper. Daí as voltas e revoltas que esse mundo dá, e a coincidência de até na hora de escolher nossos artefatos tecnológicos estarmos ligadíssimos na mais essencial das perguntas: o quanto eles têm de memória?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A nova cara da música mundial


Parece ter mais do que seus apenas 23 anos. Soa como se tivesse muito mais que isso, de tão madura.
Adele arrasou ontem no Grammy, sem perder a timidez de iniciante. Não só ela, a festa como um todo foi um arraso. Desde Bruno Mars deixando claro que Elvis não morreu (nem Michael Jackson tampouco), até Sir Paul McCartney, anunciado com gaitinha e tudo por Stevie Wonder, e se apresentando tão despojadamente como só os gênios podem ser, numa Valentine com orquestra, Diana Krall ao piano e Joe Walsh ao violão. Ele, a lenda, multi-instrumentista, multi-talentoso, na singela posição crooner. Demais!
Uma festa de eclipsar Oscar. Onde o country mostrou que pode ser angelical quando entra em cena com Taylor Swift, e o rock dos Foo Fighters gritou seu protesto, fazendo apologia da imperfeição humana como detentora da emoção, em contraposição à assepsia tecnológica sonora que faz tudo ficar com jeito de centro cirúrgico.
É certo que o fato do evento coincidir com o dia em que Whitney Houston nos deixou, tornou a celebração mais profunda e comovente. Mas deu pra perceber que algo está mudando, finalmente para melhor. Que estamos resgatando valores (Tom Jobim também marcou presença) e questionando o superficial, inclusive debatendo a relativa pobreza da reprodução digital quando comparada à qualidade do vinil. Idas e vindas até encontrar o ponto.
E enquanto as coisas vão buscando seu devido lugar, seguimos "rolling in the deep" com a nova musa e, de alguma forma, "learning to walk again", como cantam os bravos fighters.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

PARA QUE SERVE O ARTISTA?


A arte do artista é a de provocar. A isso ele se dedica, orgulhoso, vaidoso, a provocar emoções, surpresas, reflexões, admiração. Se não fustiga nenhum sentimento, por que tanta luta? Se não consegue falar ainda que em silêncio, de que vale o discurso?
O artista, não o oportunista mas o vocacionado de verdade, tem prazer em andar na contramão, só para mostrar que existe via alternativa e tirar o respeitável público de suas confortáveis certezas.
O artista é preto no branco, deixando todas as demais cores por conta da imaginação que atiça. É um sujeito corajoso como Michel Hazanavicius, múltiplo como Jean Dujardin e magnético como Bérénice Bejo.
O artista é isso: um olhar oblíquo para o futuro através do bom e velho retrovisor.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Veríssimo pai, Veríssimo filho...


Quinta-feira passada, noite, chovia e fazia frio num Rio de Janeiro carente de verão. O Instituto Moreira Sales recebia convidados para uma palestra/entrevista sobre "Incidente em Antares" com ninguém menos que Luís Fernando Veríssimo, o admirável filho do admirabilíssimo autor.
Cheguei cedo pra garantir o lugar. Não queria perder a chance de ver alguém tão brilhante falando sobre um livro que me agradou tanto numa fase decisiva da minha vida. Era curiosa a sensação de reencontro com o eu mais jovem que lera o livro sob outras circunstâncias, agora esquecido de detalhes preciosos talvez nem percebidos na época da leitura. Um encontro do eu mais maduro com o escritor filho do escritor (típico filho de peixe) cujo trabalho acompanho em livros e nas crônicas do Globo.
Gestos contidos, fala mansa, justificando a fama de tímido, lá estava Veríssimo filho, já vovô, discorrendo não só sobre aquela última obra de seu pai, mas principalmente sobre como ele o enxergava, como o via trabalhar, como o acompanhava e admirava. E o fazia como se estivesse batendo papo com amigos, papo de varanda regado a chimarrão, tratando o grande Érico simplesmente como "o pai". Soava como um menino maduro, fazendo-me refletir sobre a eternidade da infância e a relatividade do tempo.
"O Tempo e o Vento", visto daquele ângulo, parecia não mais a viga mestra da produção literária de Érico, mas uma tese filosófica do mestre sobre a volatilidade de nossos conceitos, exatamente quando o pretexto de estarmos reunidos era a celebração dos 40 anos do seu consagrado "Incidente". Sempre o tempo.
Saí do IMS feliz por ter testemunhado aquele momento, feliz pela singeleza da experiência verissimal, pelo reencontro com minha versão de décadas atrás, pela descoberta dos recantos de Antares que o eu mais jovem desperdiçou, e pelo apetite renovado de ler e reler os que sobrevivem à crueldade dos calendários.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A música segundo o gênio


Fui ver (e ouvir) ontem um filme que me encheu de orgulho. Que monumento nacional esse Antonio Carlos Brasileiro Pra Cacete Jobim! A música segundo ele é o máximo, dispensando texto, efeitos, atores e comentários... ocupando tudo com o brilhantismo das construções harmônicas e melódicas, com a riqueza dos intérpretes, com os olhares faiscantes na tela e marejados na plateia.
Devia ser obrigatório como votar, devia estar nos currículos escolares, dever cívico total, acompanhar essa história, aplaudir quem colocou o Brasil e o Rio na trilha sonora do mundo, quem elevou Ipanema ao pódio do imaginário global, quem mitificou a mulher carioca tornando-a inconfundível por detalhes tão simples quanto o "jeitinho dela andar". Que coisa mais linda!
A cumplicidade espoleta com Elis, o nivelamento estrelar com Sinatra, a fossa profunda de Maísa, a "Insensatez" de Judy Garland, a doçura de Nara, o sarro de Sami Davis Junior, divas e divos pra todos os gostos, vozes raras como a de Agostinho dos Santos e Milton Nascimento, as parcerias de Vinicius a Chico Buarque... Tá tudo ali, um desfile de genialidades que culmina na Sapucaí com justíssima homenagem, e maltrata o coração com um debochado "Chega de Saudade", depois de nos lembrar que a alma canta ao ver um Rio de Janeiro que nos enche exatamente de saudades. Sacanagem.
Criativo demais, ousado demais. Só o Tom se atreveria a fazer um samba com uma nota só, e a compor um "Desafinado", como quem desfruta de intimidades especiais com a música. Só ele poderia inspirar Nelson Pereira dos Santos a realizar com Dora Jobim um longa-metragem 100% musical, imaculado, inesquecível.