domingo, 23 de fevereiro de 2014

HUMOR, A SÉRIO.

                                                              (foto: sofavirtual.wordpress.com)    


Ouvi Robert McKee dizer que humor é "the angry art". Incomodou. Rir é tão instintivo e purificador que resisti em aceitar a ideia.
Semana passada coloquei essa questão num painel que assisti, composto por importantes autores do humor brasileiro. Todos concordaram com McKee, e um deles ainda acrescentou que "não existe humor do bem". Esta última observação me perturbou mais do que a frase do McKee.
Marcelo Madureira, o famoso Casseta e Planeta, participava desse painel e soltou várias frases marcantes. Selecionei duas: "Humorista é o artista kamikaze" e "Humor é uma leitura distorcida da realidade". Ôpa! Heroísmo combinado com função social, a coisa começava a ganhar consistência.
Pensei em Chaplin, na crítica de Tempos Modernos, no desafio de O Grande Ditador. Como foi brilhante a diluição de sua raiva naquele riso fantasiado de ingênuo. Só um gênio como ele para transformar a figura mais aterrorizante do século XX em algo ridículo.
Humor é tarefa de revoltados inteligentes, que esbofeteiam com a piada, e nos alertam para os absurdos da vida. Conclui. E fiquei imaginando Nicolás Maduro, Kim Jong-un (o Anthony Garotinho da Coreia), Evo Morales, Cristina Kirchner, Dilma Roussef e sua côrte de figuras cômicas, onde fulgura o presidente do PT do Rio com seu emblemático nome, Washington Quaquá. Só rindo mesmo.
Aí vem o Jaguar, entrevistado pelo Globo deste domingo, e diz que "Humor não serve mais pra nada". E o Antonio Prata, entrevistado pelo Rascunho, dizendo que "Todo comediante é antes de tudo um covarde. Você não tem coragem de enfrentar o mundo de frente, então enfrenta de lado, que é como o humor se relaciona com a matéria."
Entre os altos e baixos conceitos, lembro-me do mal-estar causado por alguns vídeos do Porta dos Fundos, das polêmicas, dos tantos ofendidos furiosos que adoram rosnar contra as gargalhadas. Vejo a cara tristonha do Gregório Duvivier, e enxergo nessa coletânea de opiniões / imagens o choque necessário pra que se faça humor de verdade. Necessitamos dessa fricção pra que aconteça a descarga elétrica do riso. Necessitamos da rebeldia, da autodepreciação, da contradição, do deboche, pra que caiam as fichas, e as máscaras.
Poeira baixada, encontro uma antiquíssima definição de Lévi-Strauss: "Riso é um curto-circuito do entendimento". Faz-se a luz. Sorrio.

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